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terça-feira, 8 de maio de 2018

Darker things


Uma pequena cidade, uma instalação misteriosa, conexões com outras dimensões, crianças desaparecidas, mapas, passagens subterrâneas, buscas noturnas, ambientação nos anos 80, componentes fantásticos e muito mistério. Esses elementos, misturados com temas maduros (suicídio, morte de crianças, adultério, sexo, crise existencial, para citar alguns), fizeram Dark ser rotulada de 'Stranger Things para adultos'. Mas, a comparação não sobrevive além destes pontos básicos e a primeira série alemã da Netflix se mostrou bem diferente da encabeçada por Dustin, Eleven e o Demogorgon.

Por vários motivos como tom, ritmo, escolhas para desenvolvimento dos personagens, a singularidade européia e o fato de não ser falada em inglês, além de uma recorrente e insistente trilha sonora que potencializa o suspense, a proximidade é muito maior com a francesa Les Revenants. E o ingrediente principal é bem destoante da série americana situada em Hawkins: viagem no tempo.


Alternando-se em saltos de 33 anos (entre 1953, 1986 e 2019), Dark se esbalda com paradoxos temporais de deixar qualquer fã de ficção-científica maluco. No bom sentido. É preciso bastante atenção para que detalhes não passem batido e há que se estar no clima correto para abraçar a natureza complexa de um presente que só existe porque personagens interferiram originalmente no passado. Não que seja tão difícil de acompanhar como Primer, já que existem vários momentos em que a edição pega na mão do espectador, como no em que a tela se divide em duas para comparar personagens do passado com suas versões do presente. Recurso, aliás, desnecessário já que um dos grandes trunfos da série é a escolha de um elenco em que  crianças/ adolescentes se parecem muito com suas contrapartes adultas/ idosas.

Ao lidar com este tipo de enredo a palavra-chave é planejamento. O roteiro não é tão redondo quanto ao do filme espanhol Crimes Temporais, mas se sai muito bem com um escopo muito maior e mais ambicioso.Porém, embora a jornada da primeira temporada seja interessantíssima, a conclusão é insatisfatória. Não há o fechamento de um arco principal e perguntas novas são criadas em uma taxa muito superior à de perguntas respondidas. Caso não tivesse sido anunciada uma segunda temporada, Dark deixaria um gosto amargo, que por enquanto está suspenso na confiança de que esteja mesmo amparada por um grande planejamento ao longo prazo.

Fica a torcida para que as mentes criativas não se percam e que os espectadores não terminem com a sensação de tempo perdido. Pois, não há como voltar no tempo.

A não ser que já tenha acontecido. E que ninguém tenha alterado a linha temporal em loop. Ou não. O tempo dirá.


Dark (1a. temporada), 2017




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