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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Na pele do outro


As chamadas de TV de Corra!, poucos dias antes de sua estreia nos cinemas brasileiros, citavam em letras garrafais comentários de alguns críticos: "ASSUSTADOR" e "DIFERENTE DE TUDO O QUE VOCÊ JÁ VIU". Vendida como um filme de terror, a produção teria se beneficiado mais se não tivesse sido rotulada como tal, pois pegaria a plateia de surpresa já que é de fato assustadora e diferente do basicão que existe por aí. Mas, não pelos motivos óbvios.

Se não fosse pela cena de abertura (que já chega fugindo de um dos arquétipos do gênero), o espectador ficaria se perguntando que tipo de filme é aquele até bem além de sua metade, quando assume situações mais comuns ao terror (mesmo mantendo-se firme no propósito de se desviar de clichês). O que não significa que ele só fica assustador e diferente no terceiro ato. Pelo contrário.


Acompanhando de perto Chris, um fotógrafo afro-americano interpretado por Daniel Kaluuya (o ponto forte do pior "menos melhor" episódio de Black Mirror), em sua primeira visita à família da namorada branca, o filme transpõe com maestria o sentimento de inquietude e de toda a tensão inter-racial gerada pelo encontro. Não há ameaça, violência per se, mas um grande subentendido no contexto do esforço de pessoas que tentam se portar como não racistas, mas que acabam sendo. Os comportamentos dos personagens, sustentados por ótimas atuações, dão um tom incessante de, nas palavras do próprio Chris, "what the f**k?". Claro, descobre-se mais tarde em uma virada bem amarrada e cheia de simbolismo, sintonizado com o tema principal, há um outro motivo por aquele comportamento todo.

O diretor estreante Jordan Peele conduz a produção de baixo custo com determinação e competência e, fazendo jus à sua experiência como ator e escritor de comédia, encontra um adequado espaço para alívio cômico, personificado no amigo Rod, o Agente de Segurança do Transporte. Seu roteiro constantemente mexe com as expectativas e, talvez justamente por isto, pode não agradar a todos. Com um material que facilmente cativa a empatia do espectador e o deixa na pele (vejam bem!) do protagonista, é compreensível que parte do público queira gritar o "meta-título" do filme não para a tela, mas para si.


Corra! (Get Out), 2017




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