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sábado, 4 de março de 2017

Um por todos


Tema de um livro de 1967, uma H.Q. de 1994 e um documentário de 2004, a história do soldado americano Desmond Doss não era algo totalmente desconhecido para os interessados pela II Guerra Mundial. Mas, para a maior parte do público, foi necessária uma produção hollywoodiana para que o médico de combate se tornasse mundialmente famoso. Até o Último Homem, que marca a volta de Mel Gibson à cadeira de diretor depois de dez anos (e de muitas polêmicas), tem a tarefa nada fácil de narrar as passagens deste verdadeiro herói. Nada fácil porque os feitos reais de Desmond parecem ser invencionices  de um roteiro exagerado e irrealista.

O fato de um combatente ter ido para o exército, e posteriormente para a Guerra (não é spoiler, dado que o filme -infelizmente- começa numa batalha campal para entrar em modo flashback), com a convicção religiosa de não matar e nem sequer pegar em armas, já é algo inusitado por si só. Desmond não foi o único objetor de consciência daquela guerra, claro, mas talvez tenha sido o que tomou ações de maior impacto.


Muitas vezes a escolha da composição da cena, em conjunto com a trilha sonora demasiadamente típica, parecem enfatizar desnecessariamente a presença e as decisões do protagonista. Durante a projeção, não há como não reagir com descrença ou desdém em determinadas situações criadas por Mel Gibson.  Até que, ao sair do cinema pensando que aquele filme de guerra poderia ser mais verossímil, uma pesquisa básica pela internet leva à descoberta de que, tirando algumas anacronias e detalhes da vida pessoal de Desmond, praticamente tudo aquilo aconteceu de fato. E, não só isso, o diretor e roteiristas decidiram atenuar ou até mesmo retirar o alguns acontecimentos.

Existem relatos de um soldado japonês que teve Desmond sob sua mira algumas vezes enquanto ele descia os soldados pela corda, mas sua arma emperrou todas as vezes em que tentou atirar. A própria sequência final na vida real foi mais heroica e dramática (talvez até piegas) que a retratada no filme. Depois de levar o impacto da explosão de uma granada para salvar seus companheiros, Desmond, com pedaços de estilhaço no corpo, esperou durante 5 horas até ser encontrado. Ele foi carregado em uma maca, sob forte ataque de tanques inimigos. Ao ver um outro soldado severamente ferido, rolou para fora da maca e rastejou para ajudar o homem. Então, cedeu seu lugar e enquanto esperava o retorno dos companheiros levou um tiro no braço. Improvisou uma tala e rastejou cerca de 300m sob fogo cruzado até um local seguro.

Ao contrário da grande maioria das cinebiografias, Até O Último Homem é um caso raro em que quando mais se sabe sobre o assunto e a pessoa em foco, mais se aprecia a obra e mais toleráveis ficam suas falhas.


Até o Último Homem (Hacksaw Ridge), 2016




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