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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Pneumotórax


Baseado no acidente ocorrido em 2010 na mina San José, no Chile, quando 33 trabalhadores ficaram soterrados a 688 metros de profundidade, o filme Os 33 já estava cercado de críticas antes mesmo de sua estreia. Dirigido por uma mexicana, Patricia Riggen, e coescrito por americanos e um porto-riquenho, a produção deixou atores chilenos com um ou outro papel secundário, enquanto no populoso elenco principal teve espaço para americano, espanhol, brasileiro, francesa, irlandês, mexicano, cubano, colombiano... E os detratores ainda apontaram como agravante a decisão de realizar todos os diálogos do filme em inglês.

Acontece que Os 33 tem, sim, seus problemas, mas essas questões apontadas no seu pré-julgamento pouco influenciam ou incomodam.

Mesmo estando os fatos do acidente - e de seu desfecho - frescos na memória da grande maioria das pessoas, o filme consegue prender a atenção (e a respiração). Na maior parte do tempo. Algumas sequências - como um momento de alucinação pseudo-coletiva durante uma refeição dos trabalhadores, ou várias externas à mina - surgem como desnecessárias e acabam  deixando o longa um pouco longo demais, com um ritmo irregular.


Aliás, apesar da boa atuação de Rodrigo Santoro como o super Ministro de Minas chileno e das participações significativas dos veteranos Gabriel Byrne e Juliette Binoche, teria sido uma experiência mais imersiva e recompensadora se o filme tivesse focado somente na rotina dos mineradores em vez de intercalar com esses acontecimentos já amplamente conhecidos, fora da mina. Porém, a opção foi um caminho mais seguro e didático, talvez buscando uma longevidade para a história em vez de agradar somente um público mais de imediato. Com tantos personagens para cuidar, a grande maioria acaba caindo no quase caricato - "o líder", "o cara da segurança", "o pastor", "o que imita Elvis", "o alcoólatra", etc - onde seus nomes e suas histórias são quase supérfluos. Mais do que isso, o interessantíssimo fator psicológico inerente a uma situação de extremo risco com trinta e três homens enclausurados durante dois meses acabou sendo muito pouco desenvolvido.

Vale um destaque para a trilha sonora de James Horner que alterna entre melodias que traduzem bem a tensão claustrofóbica e temas que remetem à musicalidade regional. Uma das últimas que o compositor dez vezes indicado ao Oscar completou antes de sua morte prematura aos 61 anos.

No fim das contas, não é o caso de se dizer "Trinta e três... trinta e três... trinta e três..." e ouvir que para este filme "A única coisa a fazer é tocar um tango argentino." Apesar das muitas arestas que poderiam ter sido lapidadas, o resultado é um filme bom e que não desrespeita seu material original. Os chilenos têm motivo para se orgulhar. Inclusive de americano, espanhol, brasileiro, francesa, irlandês, mexicano, cubano, colombiano...


Os 33 (The 33), 2015

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