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sábado, 27 de agosto de 2016

Já Era do Gelo


Apesar de um escopo nada inovador (uma animação digital centrada em uma improvável amizade entre um contido protagonista de grande estatura e um tagarela coadjuvante de estatura menor) e de uma história bem básica, A Era do Gelo fez rir e conseguiu marcar presença em 2002.

O apelo dos personagens com a criançada naturalmente rendeu à animação o status de 'franquia' que, com bilheteria crescente e crítica inversamente proporcional a cada lançamento, quatorze anos depois chegou à sua 5a. edição (nem percebi que houve uma 4a. - e, pelo que consta, não perdi nada).


Sem o idealizador Chris Wedge nem o brasileiro Carlos Saldanha na direção, A Era do Gelo: O Big Bang parece ter sido feito no piloto automático pelos roteiristas e animadores da Blue Sky. O filme demonstra claramente uma apatia provocada pela falta de renovação de ideias e pelo desgaste da fórmula ao longo do tempo. Sem lugar para tantos personagens que vieram sendo acumulados, até mesmo o esquilo Scrat (de longe o mais interessante com suas desventuras paralelas parte 'cinema mudo pastelão', parte 'Jerry Lewis', parte 'Looney Tunes') surge apagado, perdendo seu charme ao interferir diretamente no desenrolar da trama principal.

É triste testemunhar como que uma franquia que já envolveu tantas estrelas como Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Jack Black, Queen Latifah, Seann William Scott, Simon Pegg, Wanda Sykes, Jennifer Lopez, Nick Frost, Peter Dinklage, Kunal Nayyar, Patrick Stewart, Adam Levine e Melissa Rauch terminou sem brilho.

Pior que nem o "terminou" está garantido.


A Era do Gelo: O Big Bang (Ice Age: Collision Course), 2016




sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Quem sabe um dia...





(na verdade foi o único texto que consegui pensar com 'Padecin' que ficasse com um visual parecido com o original - essa fonte é muito legal)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Hook faz 25 anos (ou por que Stranger Things tem que voltar -e acabar- logo)


Ensaio fotográfico com os garotos perdidos de Hook - A Volta do Capitão Gancho 25 anos depois.









Como disse um amigo meu, que permanecerá anônimo por motivos óbvios: "Tenho que aproveitar meus sobrinhos antes que cresçam mais um pouco e fiquem feios..."

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nostalmagia


Em determinado momento de Stranger Things, quando os mistérios começam a ser desvendados, um personagem só consegue achar uma forma de tentar explicar os estranhos acontecimentos: "Você já leu algum livro do Stephen King?"

É com este nível de consciência e de autoconhecimento que se desenvolve a série lançada pela Netflix em julho: uma grande homenagem ao início da década de 1980 - não somente ao mundo literário de King, mas também aos filmes dirigidos e produzidos por Steven Spielberg, com grandes pitadas de John Carpenter e Wes Craven. Sem parecer cópia ou paródia de suas fontes inspiradoras, Stranger Things consegue criar identidade própria e não fica só na sensação de ser uma grande homenagem. É como sentar com amigos de longa data para ver fotos antigas e relembrar casos marcantes, mas ao mesmo tempo fazer novos amigos e viver experiências inéditas.

O enredo gira em torno do desaparecimento de um garoto na pequena comunidade americana de Hawkins e passa a acompanhar as investigações de três grupos principais de personagens, de forma igualmente interessante: os garotos amigos do desaperecido; os adolescentes, essencialmente irmão e irmã mais velhos destes garotos; e os adultos, sobretudo a mãe em busca do filho e o chefe da polícia local. Mas, claro, os mistérios têm proporções maiores do que todos podem imaginar.


Dos créditos iniciais, passando pela trilha sonora (tanto a instrumental original quanto as canções selecionadas) até a decoração dos ambientes e figurino, tudo remete meticulosamente à época, e aos filmes da época, em que a história se passa. Aliás, se tem uma falha na concepção da série é sua fotografia: perfeita e precisa é o único elemento que tira do espectador a sensação de ser uma produção realizada nos meados de 1983. E o criativo e bem amarrado roteiro, dos até então praticamente desconhecidos irmãos Duffer, ganha vida através da direção inspirada e segura deles próprios (na grande maioria dos episódios).

E se o mundo descobriu os irmãos Duffer, eles descobriram talentosos atores mirins que dão vida ao grupo de amigos no melhor estilo Goonies. Com ótima química e um charme peculiar e genuíno eles não parecem crianças recitando falas decoradas, mas sim amigos de verdade vivendo suas aventuras. Na trama paralela dos adolescentes, "presos" num A Hora do Pesadelo ou num Halloween, a escolha do elenco é também acertadíssima, com destaque para o excelente trabalho de Charlie Heaton, que interpreta o irmão mais velho do desaparecido Will Byers. E o elenco adulto também se destaca positivamente, mesmo que em alguns momentos Winona Ryder pareça exagerar um pouco na composição de sua personagem.

O fato de se desenrolar em oito episódios é crucial para que estes adoráveis personagens sejam desenvolvidos devidamente e cativem a simpatia do público. Vale notar como que em 2011, com Super 8, J.J. Abrams se esforçou para entregar algo muito semelhante, mas talvez não tenha alcançado tamanha relevância cultural justamente por estar restrito a um formato de menos de duas horas.

Divertido, tenso, intrigante, nostálgico, Stranger Things é apaixonante. E como toda paixão, toma as pessoas de forma arrebatadora e as cegam, ofuscando inevitáveis defeitos. Mas é uma experiência incrível e única enquanto dura. E deixa um gosto de quero mais. Que venham (logo) as próximas férias com essa turminha da pesada .


Stranger Things (1a. temporada), 2016




terça-feira, 2 de agosto de 2016

O bom gigante filme


Com pouco retorno nas bilheterias e críticas mornas, a fábula O Bom Gigante Amigo vem sendo apontada como um fracasso na carreira de Steven Spielberg. Parece que o atual mundo, cínico e imediatista, não estava preparado para um filme leve (mas sem deixar de ter suas passagens sombrias) e de ritmo mais lento (mas sem ser entendiante).  Esta produção - sem dúvida a mais infantil de Spielberg até hoje - realmente tem um desenvolvimento mais contido e até uma duração ligeiramente excessiva, mas é compensada com excelentes atuações, primor técnico e um terceiro ato deliciosamente divertido.

A novata Ruby Barnhill, que vive a protagonista Sophie, confirma o dom de Spielberg para descobrir e desenvolver talentos mirins ao transpirar graciosidade e espontaneidade mesmo tendo que contracenar, na maior parte do tempo, com personagens que não se encontram fisicamente no set. E o vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante este ano (por outro filme do Spielberg - o também subvalorizado Ponte dos Espiões), Mark Rylance, através de performance-capture dá vida ao BGA com vigor, destreza e carisma nunca antes vistos em Hollywood por meio desta técnica (perdão, Andy Serkis, mas é verdade).


Aliás, isto é mérito também da equipe de efeitos especiais da Weta Digital que permite que a atuação de Rylance transpareça através da tecnologia, em vez de ser mascarada por ela. Dá para se notar claramente as nuances e sutilezas nos olhos do ator, quebrando de vez a estigma de "olhar de peixe morto" sempre presente nessas capturas de movimento até então, como na própria parceria da Weta com Spielberg em As Aventuras de Tintim. A técnica, que já foi designada como motion-capture  finalmente evoluiu para 'acting-capture'.

Com seus habituais colaboradores, o compositor John Williams e o diretor de fotografia Janusz Kaminski, fazendo como sempre trabalhos impecáveis, Spielberg encanta o público através de sons e imagens marcantes e deslumbrantes. O visual é arrebatador e, mesmo sendo notória a grande carga de efeitos digitais ali contidos, as interações entre gigantes, humanos, objetos e cenários de diversos tamanhos nunca parecem artificiais ou criados por composição com fundo verde. Se o roteiro de Melissa Mathison, também responsável por E.T. - O Extraterrestre, se delonga um pouco demais tentando encontrar um arco narrativo, ele também compõe um inesperado e encantador ato final, que foge das costumeiras sequências de ação e, por incrível que pareça, traz genuína graça ao usualmente desnecessário e desagradável apelo à flatulência.

Pelo padrão de qualquer outro cineasta, O Bom Gigante Amigo teria tido uma recepção mais calorosa. Porém, pelo padrão Spielberg, parece que "bom" está muito longe de satisfatório. No fim das contas, o diretor involuntariamente acabou criando uma alegórica pseudo autobiografia ao contar a história de um gigante, talvez o primeiro deles, amigável e adorável que ouve os anseios das pessoas e vive de fabricar sonhos, mas habita um mundinho dominado por outros gigantes, vorazes e ameaçadores, que desprezam seu trabalho. O que importa é que este bom gigante conseguiu conquistar o coração das crianças e a admiração dos adultos menos irrequietos.


O Bom Gigante Amigo (The BFG), 2016