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sábado, 22 de novembro de 2014

e=mc S2

(Texto com SPOILERS de Interestelar. Não leia sem ter assistido ao filme)

Existe muita discussão sobre quão cientificamente correto Interestelar é. Isso é válido, desde que não invada o território da crítica cinematográfica com a noção de que se a ciência é mal usada ou errada, o filme é ruim. Se acuracidade técnica fosse parâmetro adequado para se julgar uma obra de arte, pobre seria de Picasso e suas escolhas bizarras na retratação da anatomia humana.

O que vem incomodando na maioria das análises da turma científica é a aversão à Dra. Brand, "do nada", ter inserido o amor na equação. Difícil é enxergar o óbvio. Interestelar nunca foi sobre viagens intergaláticas, buracos negros, o futuro da humanidade, tecnologia e outra dimensões. Isto tudo é apenas pano de fundo desta grande parábola moderna sobre pais e filhos. E, como não podia deixar de ser com um tema como este, o amor é a peça-chave da narrativa, a força motriz que impulsiona a ação dos personagens e fomenta suas motivações.

É por amor aos filhos que Cooper embarca na viagem espacial - para salvar a humanidade de tabela, mas primariamente para salvar seus filhos. É por amor aos filhos que ele se lança, em uma missão suicida, para tentar captar os dados dentro do buraco negro, a única esperança para os que ficaram na Terra.  É por amor, egoísta (pra dizer o mínimo), à filha que Professor Brand esconde seu segredo do mundo e dela. "Não se conta à sua filha de 10 anos que o mundo vai acabar", certo? Não é que o amor faz os pais enxergarem seus filhos eternamente como seres pequenos que precisam de sua proteção? E mandá-la para o espaço era sua única possível salvação, provavelmente também sua única chance de ser feliz: perpetuando a espécie ao lado do amado Edmunds. Não é extrapolar muito imaginar também que é o instintivo amor materno, incubado em qualquer mulher, que atrai Dra. Brand ao planeta de Edmunds.


O filme também parece abraçar a ideia de que amor de mãe é maior que amor de pai. Murphy (a personagem, não a lei) é a síntese disto. Só um autêntico coração de mãe, com todo o histórico de alegria e tristezas que uma família daquele tamanho certamente a ofereceu durante anos, poderia demonstrar compaixão tamanha quanto a implícita na dispensa de Cooper: "Nenhum pai deve ver seu filho morrer". Realmente, só se conhece o verdadeiro amor entre pais e filhos, após se ter um filho.

Se o amor é o combustível desta alegoria toda, o tempo é o vilão. Os dilemas de Cooper, aceitar ou não a missão, atrasar ou não seu retorno, remetem às realidades de todos os pais que se vêem divididos entre esticar mais no trabalho, visando melhores condições para os filhos, ou se esforçar para passar mais tempo com eles. E este tormento é potencializado no filme através da relatividade. A cena em que Cooper volta à nave, 23 anos terráqueos depois, e assiste aos videos de seus filhos crescendo é de partir o coração. Dele foi roubada a oportunidade de "se tornar as lembranças de seus filhos". O medo de qualquer pai se tornou realidade para Cooper. Dizem que o tempo cura tudo, mas o que cura o tempo?

É comum grandes produções utilizarem um título falso durante as filmagens, para não chamar muita atenção. Não é à toa que Christopher Nolan escolheu "Flora's Letter" para esta. Tem gente que se expressa bem escrevendo, tem gente que é através da oratória. Nolan se expressa com maestria através de imagens e sons. Quando for mais velha, mãe talvez, sua filha Flora provavelmente enxergará Interestelar não como uma exemplar obra de ficção científica, mas sim como o que verdadeiramente é: uma carta de seu pai à ela. Uma elaborada, e bela, carta de amor.

sábado, 15 de novembro de 2014

300


Exatos seis anos depois do primeiro, o blog chega ao tricentésimo post.


Quem diria que iria durar tanto?

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pais e filhos


Então aqui vai um enorme, e merecido, elogio a Interestelar: Spielberg não teria feito melhor.


Vá ao cinema. Já.
(só não compre uma Coca de 500ml - são quase 3h de filme e você não pode perder nem um minuto)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A nova geração da arte


Autorretrato do meu filho de 3 anos.

Não precisou tirar as orelhas, como Van Gogh, mas a camisa, sim, como indica o umbigo claramente ali retratado.


"A tela invoca uma dicotomia de cores puras, justapostas lado a lado, intensificando a marca do pincel atômico como recurso expressivo. A interlocução abstracionista segmentada por geometrias cubistas abandona os cânones clássicos em favor de uma multiplicidade de curvas que sugerem as formas do corpo, com as protuberantes elipses oculares manifestando a curiosidade proverbial da natureza típica do universo etário do artista. Apartado por uma divisão cromática surrealista, o céu não deixa de ser um instrumento satírico que transfigura o sol em uma pitoresca explosão de traços em vermelho vivo, pairando triunfante sobre nuvens que não se coadunam."
(Revista Fine Art Connoisseur)