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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Caminhando e cantando e dançando conforme a canção


Walk the talk.

Esta é uma expressão muito utilizada no mundo corporativo hoje em dia, que basicamente aponta uma qualidade que gestores devem ter: traduzir o que disseram em ações. Ou seja, cumprir o que prometeu, corresponder às expectativas.

Tenho acompanhado o "caso Rafinha Bastos" por alto (também com a grande ênfase da mídia na web, nem tinha como ficar alheio), e acreditava que poderia se tratar de uma simples falta de walk the talk.

O raciocínio é o seguinte: o CQC sempre prometeu e, até onde acompanhei, cumpriu, um humor mais inteligente e menos apelativo. Não vejo programas como Pânico ou Jack Ass justamente porque eles cumprem o que prometem. Eles têm a liberdade de fazer o que fazem e eu tenho a liberdade de não gostar e sintonizar qualquer uma das outras dezenas de opções na minha TV. Com o CQC, portanto, existe um acordo tácito de que não verei piadas de cunho pedófilo, por exemplo.

Recentemente, o humorista Marcelo Adnet apresentou no Comédia MTV um quadro intitulado "Casa dos Autistas" em que, ao mesmo tempo que parodiava o programa Casa dos Artistas, fazia humor alusivo a pessoas com autismo. O público não reagiu bem à esquete, chegando até a criar petição contra o programa.

Na época comentei o seguinte na lista de discussão de amigos que participo:

"É... e outro dia mesmo vi entrevista do Adnet dizendo que não se propõe a fazer humor com coisas como o terremoto do Japão ou os assassinatos na escola de Realengo."

Ou seja, mais um caso em que o "acordo" foi quebrado.

Ainda, neste mesmo e-mail completei:

"Não vi o Casa dos Autistas e já sei que não iria gostar. Mas, também acho que rola hipocrisia, pois aposto que tem muita gente nesse abaixo assinado que aprova as piadas politicamente incorretas, perversas e exploradoras de minorias ou deficientes físicos/mentais de Trey Parker e Matt Stone (South Park, Team America), Irmãos Farrelly (Quem Vai Ficar Com Mary, Eu, Eu Mesmo e Irene) ou Seth MacFarlane (Family Guy, The Cleveland Show)."

Nem o espectador fica imune à falta de walk the talk.

Agora, percebam o pior nesta história toda: Nada aconteceu com Adnet e MTV, já Rafinha Bastos está com o emprego em risco e sofrendo processo.

Não quero a caveira de um nem a absolvição de outro, mas, é necessário apontar duas coisas alarmantes:

1) A censura é condenada em vários artigos da Constituição Federal

2) O caso do Rafinha só teve o desdobramento que teve porque atingiu diretamente celebridades - ainda por cima celebridades com forte poder de patrocínio na Band.

Então, sociedade brasileira, vamos jogar fora nossa Constituição (até mesmo porque os próprios políticos, muitos deles constituintes de 1988, já não a respeitam mesmo) e vamos repudiar o humor de mau gosto somente quando ele afetar pessoas importante$ e influente$.

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